Uma função gerencial é, em sua essência, de caráter político. Esta afirmação pode ser entendida tanto no bom, como no mau sentido.
No bom sentido da afirmação, um gerente para exercer bem a sua função precisa saber motivar a equipe, conseguir recursos, solucionar problemas, ser criativo, etc. Mas, também precisa, e às vezes acima de tudo, ter um bom relacionamento profissional com os seus pares, pautado em respeito, ética e responsabilidade. Sejam os subordinados, os de mesmo nível hierárquico, mas principalmente, os superiores. Este bom relacionamento permite que ele faça com que as suas idéias e reivindicações sejam avaliadas com mais boa vontade.
No mau sentido, por diversas vezes eu já presenciei gerentes que conseguem coisas fora das regras acordadas ou passando por cima dos interesses de outras áreas, pelo simples fato de terem um bom relacionamento na empresa. O raciocínio que vale nestes casos é: para os amigos, benesses, para os não amigos, o rigor das regras. E, assim, quem não consegue ter um bom trânsito “político”, acaba sendo prejudicado em relação a outras pessoas. Nestes casos, o bem da corporação passa a ficar em segundo plano, o que vem primeiro é o interesse pessoal de cada um.
Então, qual deve ser a postura de uma pessoa que quer se sair bem em um cargo gerencial: se tornar um puxa-saco assumido para conseguir favores, ou ser sério, eficiente, comprometido e conseguir os benefícios em cima de argumentos sólidos?
Eu também não tenho uma resposta pronta para esta dúvida. A melhor resposta é a que qualquer consultor de alto nível dá em suas análises mais profundas: depende...
Depende da cultura da empresa, depende dos pares envolvidos e depende do perfil do próprio profissional que esteja diante do dilema.
Em empresas onde a meritocracia é realmente levada a sério, onde as decisões são baseadas em critérios técnicos o profissional não precisa ter este lado político tão desenvolvido, pois, ele irá negociar com pessoas que não estão tão preocupadas com quem é da panelinha e quem não é. Porém, em empresas onde as indicações gerenciais são mais calcadas em preferências pessoais e as decisões tem pesos diferentes dependendo de quem reivindica, então é bom o gerente procurar cultivar bons relacionamentos fora do escritório para conseguir sobreviver e progredir.
Eu acredito que não exista nenhuma empresa que se enquadre totalmente no primeiro perfil, mas, também não existe empresa que seja totalmente igual ao segundo. O que existe são empresas e grupos dentro delas que pendem mais para um ou para o outro lado. Este pêndulo pode variar ao longo do tempo dependendo das mudanças no grupo que está no comando da empresa.
Portanto, o gerente precisa identificar em qual meio ele está inserido e verificar se a cultura deste meio casa com a sua própria cultura.
Eu particularmente não tenho nenhuma vocação para puxa-saco, mas, procuro manter um bom relacionamento com o grupo, dentro do possível. Mas, acima de tudo procuro sempre ter embasamento nas minhas decisões e reivindicações, pois assim, elas podem até não serem aceitas, mas, pelos menos eu tenho argumentos para defendê-las. Assim eu venho sobrevivendo no mercado há algum tempo. Em algumas empresas melhor, em outras pior.
Em uma empresa, houve uma oportunidade em que eu tinha todas as condições, técnicas e políticas, de assumir a supervisão de uma área. Cheguei até ser nomeado informalmente pelo gerente da área. Até que apareceu um amigo do gerente que estava precisando de uma “oportunidade” e ele foi nomeado no meu lugar, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Foi uma pena, pois, o setor pelo qual eu seria o responsável tinha tudo para crescer, mas, foi sendo engolido por outras áreas da empresa, até que acabou.
Já em outra empresa eu tive a oportunidade de ser nomeado gerente através de um processo seletivo interno. Foi aberto um processo, onde todo mundo que tivesse os pré-requisitos podia participar e os critérios de seleção eram bastante objetivos: análise curricular, formação acadêmica, análise psicológica e entrevista técnica por uma banca independente.
O curioso nessa história é que a primeira empresa era privada e a segunda era estatal. Que ironia...
Mas concluindo, o mais importante é que o profissional determine o seu próprio perfil e verifique em que tipo de ambiente ele se enquadra melhor.
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