quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quanto o Gerente de Projeto precisa conhecer o assunto do projeto

Sempre que se debate o perfil ideal de um profissional para gerenciar um determinado projeto, surge uma dúvida: O Gerente do Projeto precisa entender apenas das técnicas gerais de gerenciamento de projetos (controle de prazos, custos, escopo, qualidade, etc.) ou é importante que ele entenda também do assunto do projeto que ele está gerenciando.

Eu, mais uma vez, vou lançar mão da reposta padrão dos consultores mais conceituados do mercado (aqueles que falam um monte de termos em inglês e cobram a hora em dólar): depende...

Em minha opinião, depende principalmente do tamanho do projeto.

Para um projeto muito grande, que envolve centenas ou milhares de pessoas com valores de investimentos elevados, importa muito pouco que o Gerente do Projeto seja um especialista no assunto objeto do mesmo, pois, além do projeto já ser complexo por si só e não existir possibilidade que uma única pessoa domine todas as áreas de conhecimento demandadas por ele, também é possível que o Gerente aloque especialistas nos diversos assuntos tratados. Para o Gerente de um grande projeto, é muito mais importante que ele possua características fortes de liderança, negociação, planejamento, etc.

Por exemplo, quando a Intelig começou a operar no Brasil, o seu capital majoritário era de origem francesa e foi designado para cuidar da implantação da empresa um advogado francês, que não entendia nada de tecnologia da informação ou de telecomunicações. Sob a liderança desse profissional, foi criada do zero uma nova companhia de telecomunicações para concorrer com a Embratel. Na época, a operação foi considerada um sucesso.

Contudo, se o projeto é de pequeno porte, o Gerente é mais exigido em ter um domínio maior sobre o assunto tratado pelo mesmo.

Imagine um projeto de desenvolvimento de sistemas com dois analistas, dois programadores e um Gerente de Projeto. Este Gerente pode não precisar entender tudo de especificação e construção de software, mas, com certeza ele não poderá ser um ignorante completo no assunto, pois, ele terá de discutir aspectos ligados à tecnologia a ser utilizada, ao processo de desenvolvimento, a modularização de sistemas, a interfaces com outros aplicativos, etc.

O Gerente de um projeto pequeno tem muito menos suporte de recursos financeiros ou humanos, para se abster totalmente do assunto do projeto e se concentrar apenas na gestão.

Por isso, normalmente, quem se torna Gerente dos Projetos são profissionais ligados à área executora dos mesmos. Engenheiros em obras ou analistas de sistemas na construção de software. Porém, se estes profissionais querem progredir na carreira trabalhando efetivamente como Gerente de Projeto, eles precisam se preparar para abstrair dos assuntos dos projetos e se concentrar mais nas técnicas de gerenciamento, pois, somente assim, eles terão a possibilidade de gerenciar projetos de maior complexidade.

Para termos uma noção do conhecimento necessário do Gerente de Projeto sobre o assunto, conforme o tamanho do projeto, podemos imaginar um gráfico parecido com o abaixo:


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Carreira na iniciativa privada ou serviço público?

Quando surge a perspectiva de uma crise econômica, imediatamente as pessoas que estão empregadas, especialmente na iniciativa privada, passam a ficar mais apreensivas em relação à segurança dos seus empregos. Muitas vezes, nem existe razão concreta para isso. Mas, só a perspectiva que a empresa possa a vir fazer cortes de vagas em algum momento, já basta para que o empregado comece a pensar nas alternativas para o seu futuro profissional.

Uma das possibilidades que se apresenta, para que a pessoa tenha mais estabilidade e fique menos vulnerável as oscilações do mercado, é o ingresso no serviço público. Além de ser uma boa oportunidade para iniciar a carreira, já que, boa parte dos concursos públicos não exige experiência anterior, é também uma opção para profissionais mais experientes. Existem muitos profissionais com formação acadêmica sólida e vivência de mercado investindo na preparação para ingressar na carreira pública, já que o serviço público também não pode fazer restrições de idade. Um profissional com 50 anos pode ser considerado velho em uma seleção, mas, em um concurso ele entra em igualdade de condições com os outros candidatos.

Independentemente da perspectiva de crise, na iniciativa privada os profissionais estão se sentindo cada vez mais pressionados: cobrança de metas cada vez mais altas e complexas, grande competitividade e falta de estabilidade. Por isso, o serviço público está sendo cada vez mais considerado uma opção.

Uma boa notícia para quem quer ingressar na carreira pública, é que a administração pública está cada vez mais profissional. Várias instâncias de governo têm investido em seguir as boas práticas da administração, em fazer avaliações sérias de desempenho, em qualificar adequadamente a mão-de-obra, em cobrar resultados por metas e recompensar as metas cumpridas. É claro que todos nós sabemos que ainda existem setores da administração pública dando péssimos exemplos, mas, nós não podemos tratar a exceção como regra.

A má notícia, é que o serviço público, em média, ainda paga menos que a iniciativa privada e a ascensão na carreira normalmente também é mais lenta.

Mas são coisas que precisam ser bem pesadas, pois, na iniciativa privada, principalmente quando existe a perspectiva de uma retração do mercado, a primeira opção para diminuição de custos é a demissão de mão-de-obra. Além disso, o serviço público proporciona uma possibilidade maior de conciliar a família e o lazer com o trabalho.

Como, exceto para cargos comissionados temporários, a forma de entrada no serviço público é o concurso público, a pessoa que realmente quiser seguir carreira pública tem que se preparar. Montar um planejamento de estudo e acompanhar os concursos que estão acontecendo, é fundamental. Mas, acima de tudo, é preciso persistência. Um concurso público não é fácil, a concorrência é enorme e não se deve desistir na primeira derrota.

Uma vez que a pessoa entrou no serviço público, se ela quiser continuar progredindo na carreira, valem os mesmos princípios da iniciativa privada: investir em educação e qualificação, apresentar bons resultados e se comprometer com o trabalho.

Não existe um caminho melhor ou pior, a decisão de investir na carreira privada ou pública depende do perfil, das prioridades e do projeto de vida de cada um. Portanto, a decisão é sua.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O caráter político da função gerencial

Uma função gerencial é, em sua essência, de caráter político. Esta afirmação pode ser entendida tanto no bom, como no mau sentido.

No bom sentido da afirmação, um gerente para exercer bem a sua função precisa saber motivar a equipe, conseguir recursos, solucionar problemas, ser criativo, etc. Mas, também precisa, e às vezes acima de tudo, ter um bom relacionamento profissional com os seus pares, pautado em respeito, ética e responsabilidade. Sejam os subordinados, os de mesmo nível hierárquico, mas principalmente, os superiores. Este bom relacionamento permite que ele faça com que as suas idéias e reivindicações sejam avaliadas com mais boa vontade.

No mau sentido, por diversas vezes eu já presenciei gerentes que conseguem coisas fora das regras acordadas ou passando por cima dos interesses de outras áreas, pelo simples fato de terem um bom relacionamento na empresa. O raciocínio que vale nestes casos é: para os amigos, benesses, para os não amigos, o rigor das regras. E, assim, quem não consegue ter um bom trânsito “político”, acaba sendo prejudicado em relação a outras pessoas. Nestes casos, o bem da corporação passa a ficar em segundo plano, o que vem primeiro é o interesse pessoal de cada um.

Então, qual deve ser a postura de uma pessoa que quer se sair bem em um cargo gerencial: se tornar um puxa-saco assumido para conseguir favores, ou ser sério, eficiente, comprometido e conseguir os benefícios em cima de argumentos sólidos?

Eu também não tenho uma resposta pronta para esta dúvida. A melhor resposta é a que qualquer consultor de alto nível dá em suas análises mais profundas: depende...

Depende da cultura da empresa, depende dos pares envolvidos e depende do perfil do próprio profissional que esteja diante do dilema.

Em empresas onde a meritocracia é realmente levada a sério, onde as decisões são baseadas em critérios técnicos o profissional não precisa ter este lado político tão desenvolvido, pois, ele irá negociar com pessoas que não estão tão preocupadas com quem é da panelinha e quem não é. Porém, em empresas onde as indicações gerenciais são mais calcadas em preferências pessoais e as decisões tem pesos diferentes dependendo de quem reivindica, então é bom o gerente procurar cultivar bons relacionamentos fora do escritório para conseguir sobreviver e progredir.

Eu acredito que não exista nenhuma empresa que se enquadre totalmente no primeiro perfil, mas, também não existe empresa que seja totalmente igual ao segundo. O que existe são empresas e grupos dentro delas que pendem mais para um ou para o outro lado. Este pêndulo pode variar ao longo do tempo dependendo das mudanças no grupo que está no comando da empresa.

Portanto, o gerente precisa identificar em qual meio ele está inserido e verificar se a cultura deste meio casa com a sua própria cultura.

Eu particularmente não tenho nenhuma vocação para puxa-saco, mas, procuro manter um bom relacionamento com o grupo, dentro do possível. Mas, acima de tudo procuro sempre ter embasamento nas minhas decisões e reivindicações, pois assim, elas podem até não serem aceitas, mas, pelos menos eu tenho argumentos para defendê-las. Assim eu venho sobrevivendo no mercado há algum tempo. Em algumas empresas melhor, em outras pior.

Em uma empresa, houve uma oportunidade em que eu tinha todas as condições, técnicas e políticas, de assumir a supervisão de uma área. Cheguei até ser nomeado informalmente pelo gerente da área. Até que apareceu um amigo do gerente que estava precisando de uma “oportunidade” e ele foi nomeado no meu lugar, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Foi uma pena, pois, o setor pelo qual eu seria o responsável tinha tudo para crescer, mas, foi sendo engolido por outras áreas da empresa, até que acabou.

Já em outra empresa eu tive a oportunidade de ser nomeado gerente através de um processo seletivo interno. Foi aberto um processo, onde todo mundo que tivesse os pré-requisitos podia participar e os critérios de seleção eram bastante objetivos: análise curricular, formação acadêmica, análise psicológica e entrevista técnica por uma banca independente.

O curioso nessa história é que a primeira empresa era privada e a segunda era estatal. Que ironia...

Mas concluindo, o mais importante é que o profissional determine o seu próprio perfil e verifique em que tipo de ambiente ele se enquadra melhor.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Problemas no uso do email profissionalmente

O email é uma ferramenta sensacional e mudou muito a forma de nos relacionar nos últimos anos. Profissionalmente, permitiu uma interação muito mais ágil entre os diversos setores e pessoas de uma ou mais empresas, mesmo que elas estejam distantes geograficamente.

Em relação ao telefone, o email tem algumas vantagens, como o fato de ser assíncrono, ou seja, você manda uma mensagem e não ocupa a outra pessoa de imediato, ela lê e responde quando puder. Outra vantagem é a possibilidade de trocar documentos, imagens e vídeos.

Mas o email também tem seus problemas: excesso de mensagens desnecessárias, disseminação de programas maliciosos, envio de mensagens com cópia para pessoas que não tem nenhum relacionamento com o assunto, a falta da comunicação pessoal, erros de interpretação sobre o que está escrito e, o que eu acho pior, o uso do email como forma de transferir responsabilidade. Tem pessoas que acham que a única coisa que elas precisam fazer é mandar um email, sobre qualquer assunto, que o problema já tem outro dono e ela já está desobrigada de tratar o problema original.

O jornal Valor Online publicou um artigo muito interessante sobre o assunto, inclusive, mostrando que algumas empresas já estão restringindo o uso do email por seus funcionários.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Leitura recomendada: A biografia do Garrincha

Eu terminei de ler o livro com a biografia do Garrincha:

ESTRELA SOLITARIA - UM BRASILEIRO CHAMADO GARRINCHA
Ruy Castro
COMPANHIA DAS LETRAS
ISBN: 8571644934

Eu não vi o Garrincha jogar, mas, como todo mundo que gosta de futebol, sempre admirei suas jogadas e ouvi as histórias que se conta sobre ele: mulheres, bebida, inocência, malandragem, etc.

Quando fiquei sabendo do livro, me interessei em conhecer mais sobre a vida dele e o li quase sem parar. Normalmente, as pessoas gostam muito de futebol, mas, não se interessam pelas histórias que cercam o esporte. Muitas vezes, essas histórias são mais interessantes que o jogo em si. É o caso típico de Garrincha, que apesar de ter sido um gênio com a bola, teve uma vida muito mais rica em termos de acontecimentos fora do campo de jogo, seja para o bem ou para o mal.

O livro é muito bem escrito e tem o mérito de procurar separar o homem do mito. Várias histórias que a gente vem ouvindo sobre o Garrincha há tanto tempo acabam se revelando lendas ou meias verdades, enquanto outras se confirmam.

É possível entender melhor o encerramento precoce de sua carreira, os contratos mal feitos, as fugas das concentrações, a compulsão por mulheres, os filhos espalhados por todos os cantos, o relacionamento com a família, a dependência do álcool e tirar uma dúvida que sempre me afligiu: quando ele dava aqueles dribles desconcertantes, por que os adversários não lhe "metiam o pé”? (A verdade, é que ele apanhou muito, mas, na maioria das vezes, ele era mais rápido que os pontapés que tentavam lhe aplicar).

É triste constatar como o álcool destrói a vida da pessoa, sem que ela se dê conta disso. Além disso, o livro resgata a imagem de Elza Soares, que foi considerada uma aproveitadora e destruidora de lares (pelo menos foi isso que eu sempre ouvi), mas, o livro mostra a imagem de uma pessoa que gostava muito do Garrincha, sofreu muito por isso e segurou a barra até onde pôde.

Essa é uma história cuja leitura eu recomendo.