quarta-feira, 25 de março de 2009

Paulo Henrique Amorim: O jornalista que encolheu

Eu sempre considerei o Paulo Henrique Amorim um excelente jornalista: crítico, sensato, independente, comunicativo, apesar de um tanto tendencioso, principalmente quando se trata de defender cegamente o governo Lula e o PT em geral. Mas, enquanto ele está no papel de colunista, eu não posso criticar o fato dele defender suas posições, eu posso apenas concordar ou discordar.

Até hoje ele tenta passar essa boa imagem. Veja, por exemplo, o seu portal na internet. No seu perfil ele diz que espera que o neto se orgulhe de suas idéias e nos seus artigos, ele chama a grande imprensa de golpista:

"Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista."

Mas ele se esquece de falar dos seus próprios pontos fracos. Hoje ele trabalha para a Rede Record, que pertence ao famigerado bispo Edir Macedo. Mas, este não o problema maior, afinal todos nós temos que ganhar a vida. O problema é o papel que ele aceita fazer no seu emprego, como se fosse trabalho jornalístico.

Em outubro de 2007 ele fez uma reportagem no programa dominical da Record, que chegou a me dar pena pelo papel que ele desempenhou ao conduzir uma matéria encomendada pelo dono da empresa, o tal Edir Macedo. Eu não conheço muito de jornalismo, mas, essa reportagem deve ir contra qualquer manual básico da profissão: tratar matéria paga como se fosse notícia.

Na tal matéria, o bispo foi mostrado como vítima de perseguição por parte das autoridades porque passou 11 "terríveis" dias na cadeia e aproveitou para mostrar o seu livro em que contava as agruras sofridas neste episódio.

O Paulo Henrique cumpriu direitinho o papel que lhe cabia naquele "informe publicitário", eu percebi que em alguns momentos ele quase chegou às lágrimas com a "dramática" história do sujeito que há 15 anos, passou 11 dias na cadeia, foi tratado como manda a lei e aproveitou bem esse fato para fortalecer ainda mais a sua imagem junto aos fiéis.

Se o Paulo Henrique continuar assim, vai acabar sendo promovido pela Record pelos bons serviços prestados. A pena a que eu me referi acima é por constatar que jornalismo passou a ser apenas uma lembrança distante na sua carreira.

Tal qual fez o seu patrão, futuramente ele pode até escrever um livro sobre essa virada na sua carreira e ganhar mais algum dinheiro. Para ajudar, eu dou a minha sugestão de título: "Paulo Henrique Amorim: O jornalista que encolheu".

Nós costumamos criticar pessoas como a Mônica Veloso, que fazem tudo por dinheiro, mas, existem maneiras bem mais sutis de agir da mesma forma e não causar tanta polêmica. Enquanto a Mônica vendeu o corpo (seja para o senador ou seja para a Playboy), o Paulo Henrique está vendendo as suas idéias e convicções e, eu acredito, por um preço bem mais barato.

A minha curiosidade é saber o quanto uma pessoa aceita se rebaixar para ganhar a vida? Será que o seu neto vai se orgulhar disso também?

Posteriormente, em 2008, o Sr. Paulo Henrique Amorim teve o seu contrato com o portal IG rescindido. Ele saiu atirando para todos os lados e criticando o IG e todos que tivessem algum tipo de relacionamento com o portal, sem dó.

Eu concordo que o IG agiu de forma pouco ética na rescisão do contrato dele. A rescisão deveria ter sido comunicada com mais antecedência e os seus leitores deveriam ter sido informados sobre o novo local de hospedagem do blog.

Contudo, eu acho que o assunto foi tratado de maneira equivocada pela maioria das pessoas:

- O fato não se tratou de uma demissão, afinal o Paulo Henrique não era empregado do IG, tinha um contrato de hospedagem do seu site;

- Também não se tratou de censura, o IG simplesmente não concordou com a sua postura, seja por razões comerciais ou políticas, e resolveu não continuar hospedando o seu site. O meu patrão, se não gostar de alguma atitude minha, pode me mandar embora sem nenhuma explicação e nem por isso os outros vão dizer que eu fui censurado.

- Ele não foi injustiçado, simplesmente um contrato comercial foi rompido. Eu acredito, que financeiramente ele pode até faturar mais em um blog independente exibindo anúncios pagos.

Agora, o que me incomoda muito nessa situação, é o hábito que o Paulo Henrique tem de sair "atirando" sempre que deixa uma organização:

- Ele trabalhava na Globo, recebia seu salário e, pelo menos aparentemente, não tinha nenhuma intenção de sair. Bastou a Globo lhe demitir, que virou o exemplo para tudo de ruim que havia na imprensa. Quando ele estava lá dentro não achava isso ou estava aturando calado por causa do bom salário?

- No IG, eu nunca vi nenhuma manifestação dele contra o portal e seus acionistas. Agora que ele saiu, o portal e seus executivos ganharam apelidos pejorativos e passaram ser a encarnação do demônio.

Mas o Paulo Henrique ainda trabalha para a Record. Será que lá na Record não tem nada de errado? É correta a exploração que os "bispos" fazem dos miseráveis? É correto a IURD usar uma concessão pública para vender seu "produto"? É correto a IURD patrocinar uma "chuva" de ações judiciais contra quem quer que seja? As finanças da IURD e suas coligadas são transparentes e parecem éticas? Está certo o "bispo" Macedo fazer a emissora produzir matéria encomendada como se fosse jornalística usando o Paulo Henrique como apresentador?

Talvez, se o Paulo Henrique se dispusesse a responder, ele dissesse: "Nada disso existe, não há nenhum problema deste tipo na Record."

Mas, talvez ele só se lembre de mencionar isso no dia que a Record o demitir e ele resolver sair atirando com a sua metralhadora de conveniências.

Cuidado, Paulo Henrique, pois, você está gastando rapidamente todos os cartuchos de prestígio que acumulou durante vários anos. Um dia, os cartuchos acabam.

Eu enviei este texto para o portal do Paulo Henrique, mas, naturalmente, ele não foi publicado e nenhuma reposta me foi dada.

Um comentário:

  1. O fato de alguém precisar de uma mídia poderosa para ser conhecido é um pouco nobre, porém sabemos que ficar no anonimato não ajuda. Tenho certeza de que ele não gostou de fazer a matéria do Bispo mas fazer o que? Ele precisa do emprego.
    Quanto ai IG o comportamento foi de censura sim pois como hospedeiro de sites ele deveria colocar às claras suas regras para hospedagem. Nada que o Amorim postou foi pornográfico, ofensivo ou contra o IG. Portanto sem justificativa legal. O IG hoje é declarado opositor do governo e não gostou das publicações do Amorim.

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